sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

“Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado!” [Is 9,5]

Aproxima-se a celebração do Natal de Jesus. De que modo acolhemos o Menino que nasce? Esta é uma importante pergunta, pois sua resposta nos conduzirá a uma melhor vivência no seguimento de Cristo. E para que isso aconteça é necessário compreendermos o modo como Jesus foi acolhido pelos primeiros que contemplaram o seu nascimento.

A primeira acolhida – feita pelos pastores – é de fácil compreensão, dada a semelhança entre os pastores e a Sagrada Família. Podemos deduzir do Evangelho que os pastores que para ali se dirigem não são homens de grandes posses ou riquezas, pois durante a noite cuidam do rebanho de alguém, ou simplesmente pastores pobres que vigiam o próprio rebanho. Noites frias e outras penúrias não eram algo raro. Deste modo, não se esquivam da obrigação de acolher e cuidar do Menino que nasce. A aparição do anjo fortalece a relação de Deus com os mais pobres que não têm a quem recorrer, por isso os gestos de amor, cuidado e solidariedade. Se Deus cuida de mim que sou pequeno, por que não haveria de cuidar dos menores que estão à minha volta? Ao atender o chamado do anjo, os pastores confirmam a sua vocação de protetores e zeladores da vida.

A segunda acolhida – feita pelos Reis Magos – é um tanto mais complexa. Ela revela a compreensão que os magos tinham de Jesus, e também a verdadeira compreensão do que será a vida do Emmanuel, o “Deus conosco”.

O Evangelho de São Mateus não precisa quantos eram os Reis Magos. Pela quantidade de presentes, comumente diz-se que eram três. Conforme a tradição, eram do Oriente; guiados pela estrela, acorreram ao local do nascimento de Jesus, levando-lhe oferendas. Primeiro se acreditou que eram sábios astrólogos, membros da classe sacerdotal de alguns povos orientais, como os caldeus, os persas ou os medos. Ao longo dos séculos foi-se acrescendo a esse episódio uma série de informações que deram um perfil peculiar a cada um deles. A partir do século VI, a Igreja passou a considerá-los reis e lhes nomeou: Melquior (“meu rei é luz”), Gaspar (“aquele que vai inspecionar”) e Baltasar (“Deus manifesta o rei”). Além disso, atribuiu a cada um características das três raças humanas existentes. Melchior seria o representante da raça branca, européia, e dos descendentes de Jafé; Gaspar pertenceria à raça negra, proveniente da África, descendente de Cam; Baltasar representaria a raça amarela, habitante da Ásia e descendente de Sem. O Evangelho nos mostra, assim, que mesmo os povos distantes e de culturas diferentes reconhecem em Jesus o Messias, o Salvador do mundo.

Os presentes ofertados a traduzem a compreensão de realeza atribuída ao Menino. Melquior entregou-Lhe ouro em reconhecimento da realeza; Gaspar, incenso em reconhecimento da divindade; e Baltasar, mirra em reconhecimento da humanidade.

Os presentes podem, num primeiro momento, nos confundir em relação à vocação de Jesus e à sua vida de serviço, doação e ação de graças, já que esses presentes apontam para a nobreza e realeza daquele a quem são ofertados.

Na verdade, os presentes dos Reis Magos revelam verdadeiramente a vocação de Jesus. O ouro, o incenso e a mirra figuram a real vocação do Filho de Deus. Vejamos.

A beleza e a raridade do ouro são ressaltadas pela capacidade de alcançar novas formas sem esconder a sua essência. Uma pequena porção de ouro em peças comuns faz com que se tornem valiosas, mediante a manipulação cuidadosa de um bom artesão. Assim foi a vida e a ação de Jesus. Agindo como artesão, tornava grandiosos os gestos mais simples. Ao ofertar ouro, os Reis Magos reconheciam em Jesus toda a sua grandiosidade frente o modo que ele conduziria sua vida entre os homens.

O incenso tem como significação elevar-nos a Deus, criar harmonia. Por meio de seu perfume traz a paz e devolve ao homem a tranqüilidade, o que possibilita concentrar-se em Deus, voltar a mente Àquele que é o verdadeiro sentido de nossa vida. Deve-se entender que o incenso não é a fumaça, mas o aroma exalado, que conduz a nossa alma a Deus. Por outro lado, a fumaça produzida torna-se sinal de que nossos anseios, desejos e preces sobem até Deus. Como a chama que consome a matéria e a transforma em fumaça, assim é o amor de Deus, que decompõe nossas fraquezas e nos devolve a esperança, perfume que se espalha e acalma os nossos desejos, devolvendo-nos a paz em Deus. Assim será a vida de Cristo: um constante consumir-se em Deus, que como incenso queima dia a dia, espalhando o odor de Deus por onde passa, ou seja, a sua presença traz harmonia, nos acalma, consola e conforta. E nos devolve ao caminho de Deus.

A mirra era conhecida pelo seu perfume, e sua suavidade representa a unção. Tem como primeiro uso o terapêutico. Era usada nos campos de batalha pelos guerreiros egípcios, evitando inflamações resultantes de arranhões ou cortes. Jesus, no seu dia a dia, será como a mirra. A sua ação irá curar desde pequenos arranhões aos mais profundos cortes dentro de uma sociedade. Será o médico de corpos e almas em meio ao campo de batalha que é a vida e a própria mirra que cura e devolve a vida e o ânimo aos homens.

Os Reis Magos ofertaram presentes materiais a Cristo, e foram presenteados com o mais nobre presente que podemos receber de Deus. O evangelista relata que eles não voltaram pelo mesmo caminho (cf. Mt 2,12), ou seja, se converteram. E este deve ser o nosso grande desejo: ao estarmos na presença do Menino Deus, possamos verdadeiramente nos converter. Pois foi para isso que “um Menino nasceu para nós”.

Feliz Natal todos!





Frei Ennis Cláudio

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